Você está de plantão e um paciente sabidamente portador de FA crônica foi manejado por você com alta resposta, já descartou gatilhos infecciosos e outros diagnósticos diferenciais. Controlou parcialmente a frequência cardíaca (FC) e está na dúvida se existe uma frequência certa para liberar este paciente.
Bem, de fato, não há consenso de uma frequência exata proceder com essa alta mas além de garantir que esteja já assintomático da arritmia existe um estudo que usamos bastante para nortear essa resposta, trata-se do estudo RACE II, publicado em 2010, no NEJM.
O objetivo deste estudo foi avaliar se o controle leniente da FC seria não inferior ao controle rigoroso na prevenção de eventos cardiovasculares em pacientes com FA permanente num seguimento de 2,5 anos.
O estudo RACE II portanto, comparou desfechos clínicos frente ao controle rigoroso (n=311) versus controle leniente (n=303). Que valores de FC foram esses? Controle leniente: FC < 110 bpm. Controle rigoroso: FC < 80 bpm
no repouso e < 110 bpm durante exercício moderado.
O que se concluiu foi que em pacientes com fibrilação atrial, o controle leniente da frequência cardíaca é tão efetivo quanto o controle rigoroso. É claro que convido você a ler este estudo pois existem várias sub-análises que devem ser levadas em consideração como a baseline e outros aspectos do desenho e desenrolar deste estudo. No entanto, o intuito de sugerir este artigo é o seguinte: usamos muito o extrapolar desse raciocínio para imaginar que uma FC cardíaca segura ou com algum grau, mesmo que indireto de evidência, seria a FC 110bpm, entendeu?
Referência: Van Gelder IC et al. Lenient versus strict rate control in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med 2010;362(15):1363-73.